Para abraçar o caminho espiritual inteiramente, ser capaz de nele crescer e percorrê-lo com uma sensação de segurança, é necessário renunciar. Renúncia não significa necessariamente raspar o cabelo ou vestir mantos. Renúncia significa abandonar todas as idéias e esperanças às quais a mente desejaria se apegar e reter, ter interesse e desejo de investigar. A mente deseja ter sempre mais do que quer que seja que esteja disponível. Se ela não consegue obter mais, ela então produz fantasias e imaginações e as projeta sobre o mundo. Isso nunca trará a verdadeira satisfação, paz interior, que apenas podem ser conquistadas por meio da renúncia. “Abandonar” é a palavra chave no caminho Budista, é a dissolução do desejo. É necessário compreender de uma vez por todas que “mais” não é “melhor.” É impossível chegar ao fim de “mais,” sempre há algo que está mais além. Mas com certeza é possível chegar ao fim de “menos,” que é uma abordagem muito mais inteligente.
Porque sentar isolado em meditação e arruinar as possibilidades de todas as oportunidades que o mundo oferece para o divertimento? Uma pessoa poderia viajar, dedicar-se a um trabalho desafiador, conhecer pessoas interessantes, escrever cartas ou ler livros, desfrutar um período agradável em algum outro lugar e realmente sentir-se tranqüila – ela poderia até mesmo encontrar um caminho espiritual distinto. Quando a meditação não alcança os resultados desejados, pode surgir o pensamento: “O que é que eu estou fazendo, porque estou fazendo isso, para que, qual o benefício disso tudo?” Então surge a idéia: “Eu na verdade não sou capaz de fazer isso muito bem, talvez eu devesse tentar outra coisa.”
O mundo reluz e promete tanto, mas nunca, nunca cumpre as suas promessas. Cada um de nós já experimentou inúmeras vezes as suas tentações e nenhuma delas trouxe real satisfação. A verdadeira satisfação, a plenitude da paz, sem faltar nada, a completa tranqüilidade desprovida de cobiça, não pode ser satisfeita no mundo. Não há nada que possa preencher os nossos desejos de forma completa e absoluta. Dinheiro, posses materiais, uma outra pessoa, embora essas coisas possam trazer alguma satisfação, no entanto, existe aquela dúvida incomodativa: “Talvez eu encontre alguma outra coisa, mais confortável, mais fácil, não tão exigente e acima de tudo algo novo.” Sempre, aquilo que é novo promete a satisfação.
A satisfação que estamos buscando não é o que podemos conseguir para rechear esta mente e corpo. O buraco é demasiado grande para ser preenchido. O único modo de encontrar satisfação é abandonar as expectativas e desejos em relação a tudo aquilo que ocorre na mente, sem deixar escapar nada. Então, não restará nada para ser preenchido.
Texto de Ayya Khema.
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