São 19h30 o espaço físico do Templo está tranqüilo, alguns médiuns chegando, arrumando o necessário para a gira, alguns na cozinha, outra passando pano com extrato de ervas no chão sagrado e o sacerdote firmando o Congá e demais assentamentos. Tudo dentro da rotina tradicional parecia mais uma gira de preto velho. A energia do ambiente até então dentro da normalidade.
Quando o relógio aponta 19h48, do lado espiritual começa uma grande movimentação, na rua alguns cavaleiros montado em cavalos brancos de um porte superior aos mais superiores do plano físico firmavam sua posição e ronda nas quadro esquinas do quarteirão em que se encontra o Templo. Não é normal este tipo de escolta, porém nada diferente apontava por ali, quando um portal se abriu na porta de entrada do Templo e muitos Guardiões e Guardiãs começaram a chegar e tomar seus postos frente ao Templo. O Guardião chefe da casa chega após os outros, cumprimenta a todos e adentra ao Templo com mais dois companheiros e uma companheira, posicionam na consulência, ele vai até os médiuns verificar qualquer anormalidade, em alguns poucos que estavam emocionalmente enfraquecidos ele irradiou uma energia de coloração vermelho claro, por alguns instantes a aura destes médiuns vibrava a cor, depois pareciam que eram absorvidas a exemplo de um creme hidratante usado entre os encarnados, passo seguinte estes membros sentiam-se mais animados. Feito isso dirigiu-se a Tronqueira[1]. Lá estava seu médium, o Sacerdote do Templo, ele se faz presente e inspira que naquela noite algumas coisas “estranhas” ocorreriam, mas que ficasse tranqüilo, pois nada estava fora do planejamento de atuação.
Os médiuns já começam sentir uma energia estranha no ambiente, alguns sentiam irritação e outros sonolência, é importante compreender que neste caso é uma reação orgânica que os médiuns manifestam em contato com energias não habituais, e neste sentido cada qual reage de uma forma. Apesar disso todos mantinham-se em seus lugares concentrados para a manifestação dos Preto-Velhos.
Na consulência uma Pomba Gira irradiava sua vibrações nos visitantes, alguns ali chegando com grandes tormentos psíquicos e emocionais, no entanto, no geral a maioria estavam em ótimo estado espiritual, vindo ao Templo unicamente para exercer a sua religiosidade.
A sineta toca, badalada pelas mãos do Sacerdote, algumas faíscas são espargidas da sineta no momento e um clarão se faz presente sobre as velas acesas na mesa dele. Uma esfera se forma desta luz e começa a absorver os pensamentos e vibrações de todos os membros da corrente mediúnica. É possível observar com clareza um cordão saindo desta esfera e se ligando no chakra frontal do Sacerdote enquanto ele procede com a defumação e desta forma ele vai sendo informado sobre o estado emocional e espiritual da sua equipe de trabalho nesta noite.
O Sacerdote ministra sua palestra inicial falando sobre auto-iluminação e a linha de trabalho da noite. A consulência atenta ouve com prazer e começa o processo de reflexão que ajudará muito o trabalho dos guias espirituais.
Após as etapas litúrgicas da abertura já os Pretos Velhos ao lado de cada médium, o guia chefe incorpora no Sacerdote e instantaneamente o ponto riscado na força dos Guardiões, firmado na porteira que separa a consulência da corrente mediúnica dispara um clarão do seu centro e um disco girante paira um metro de altura. Algumas energias densas ligadas ás pessoas da consulência começa a ser atraída pelo disco, um fenômeno muito parecido com um imã grande e potente.
Um a um os guias vão tomando conta de seus médiuns sob as vibrações emanadas pela curimba.
Os atendimentos iniciam e tudo vai correndo com normalidade, hoje vou falar do trabalho que a médium Bernadete desenvolve sem saber. Cada pessoa que seu preto velho atendia vinha com um ou outro obssessor ou cascões muito grosseiros no corpo astral. Após o atendimento os obssessores se mantinham amarrados ao lado dela, os cascões e demais dejetos energéticos eram jogados dentro de um saco grande. Logo mais aconteceria algo.
Num determinado momento, o ponto riscado do lado direito da porteira interna para a força de proteção da linha da direita começou a irradiar uma intensa luz azul escuro que formou um imenso portal por onde começou a chegar muitos espíritos dementados, machucados, dilacerados e alguns revoltados. Foram todos posicionados no centro do salão, alguns médiuns em desenvolvimento sentiram uma energia estranhíssima no ambiente e sem perceber doava ectoplasma para os guias trabalharem e naturalmente iam ficando cansados. Então três dos cavaleiros de fora entraram correndo no salão sob o toque de um ponto cantado a Ogum. Eles circularam estes espíritos com correntes grossas no chão, esta corrente em círculo também abriu outro portal que recolheu estes espíritos, tudo supervisionado pelo espírito guia responsável em promover um trabalho de Socorro Espiritual.
Pai João espera a última atuação da gira. Lembra da Bernadete? Então, ela após a desincorporação do Preto Velho, sente a presença do Exu Gira Mundo e tenta fingir para si que não é com ela. Mas ele vai minando suas defesas e incorpora, estabilizando assim suas energias e repondo o que foi sendo esgotado ao longo dos atendimentos, quando desincorpora, acorrenta todos os espíritos que estavam em volta dela, coloca o saco com os dejetos energéticos nas costas e ainda aproveita para fazer incorporar um dos necessitados mais necessitados que as outras dezenas de obssessores em volta. Após ele se recolhe e tudo fica tranqüilo.
Pai João se despede, fim de mais uma gira.
Saravá!
Ditado por Pai Zuluá de Aruanda
[1] Tronqueira é o nome que se dá ao espaço ou ambiente dedicado à assentamentos da força de Guardiões e Guardiãs (Exu e Pomba-Gira).
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